
CARNAVAL

O “Nego Fugido” é um espetáculo da cultura popular santamarense que funde elementos da dança, da música, do candomblé e do teatro. Ele registra uma manifestação popular única, mantida há pelo menos um século pelos moradores, sendo uma das mais importantes manifestações culturais da região, atraindo todos os anos centenas de fotógrafos e turistas para presenciar as aparições realizadas por moradores do distrito sempre aos domingos do mês de julho, quando revivem a luta pelo fim da escravidão, tendo como cenário as ruas de Acupe, uma comunidade quilombola banhada pela Baía de Todos os Santos no distrito de Santo Amaro. É uma encenação que recria, a luta pela libertação dos escravos. Os personagens da encenação de Nego Fugido, traduz a versão dos moradores do local em relação à libertação dos escravos, revivendo o ideal de liberdade almejado por eles. Esta encenação mostra uma conquista dos negros e não uma concessão dada pela princesa Isabel.
A representação do “Nego Fugido” conta a história do negro que fugia, era perseguido nas matas e vestia-se de folhas de bananeira para se camuflar. É uma manifestação popular, que se mantém desde o século XIX, originária de escravos africanos de origem Nagô, com saudade dos seus, e da sua pátria, tão bem representada no cordel “ABC de Mourão” de autoria de Armando Azevedo onde encontramos a seguinte referência ao “Nego Fugido”:
No Acupe tem nego fugido // Procurando libertação // Conquistada com luta // Nunca com doação // O homem que almeja liberdade // Chora e sente saudade // Trabalha com o coração.
Nossa apresentação para o Carnaval 2018 será desenvolvida através de: fantasia com estampa alusiva ao tema “Nego Fugido”, alegorias (sombreiros, Babalotin, casa do rei); alas: baianas, dança capoeira, do tema que será contada na avenida através do intercâmbio com a Associação Cultural Nego Fugido de Acupe, que realizará uma brilhante representação teatral na avenida.
A aparição é composta pelos seguintes personagens:
A “nega”, interpretada por jovens que usam calção branco, pintam o rosto de preto e utilizam na boca corante para bolo, fazendo alusão ao sangue derramado nas fugas. Estes representam os escravos fugitivos, tentando se livrar do caçador;
O caçador, um dos principais personagens, com roupa feita de couro, cabaças, espingarda, rosto pintado com tinta guache e carvão triturado, corante escorrendo pela boca e saia de bananeira, eles capturam as negas e as vendem para o público que assiste à manifestação;
O capitão do mato é a figura que impõe respeito, com chicote na mão e bradando, ele ordena os capitães do mato a vender as negas que tentam juntar dinheiro para comprar a carta de alforria;
O rei é o detentor da carta e assiste a toda a aparição, acompanhado de seus guardas que fazem a sua segurança enquanto ele recebe o dinheiro conseguido pelas negas;
Outra figura importante é a da princesa Isabel. É ela quem convence o rei a dar a carta de alforria para os escravos.
Toda encenação é dirigida pelo toque dos tambores e atabaques. Os cânticos misturam português e iorubá em uma só sintonia. Em meio a toda perseguição, as negas se jogam no chão estrebuchando e tremendo como se tivessem tendo um ataque de epilepsia. Todos gritam, enquanto os caçadores correm de forma desengonçada em busca do escravo, disparando a espingarda e deixando escorrer da boca todo o corante vermelho. Finalmente os escravos conseguem se rebelar e ganham o apoio dos caçadores, que além de conquistar a liberdade, conseguem prender e leiloar o rei.
Nego Fugido é o tema no Carnaval do
Afoxé Filhos do Congo em 2018

